Leia o Primeiro Capítulo: Nome completo por favor!
- Marcos Vinicius
- 29 de out. de 2021
- 4 min de leitura

Nome completo, por favor! Respondo já sabendo que não vai ser suficiente: - Marcos Vinicius. A atendente faz um olhar de desaprovação e concluiu: - Vinicius do quê? Lá vamos nós: - Apenas Marcos Vinicius. Vinicius é o sobrenome. A atendente incrédula pergunta: - Vinicius é o sobrenome? E completa: - Desculpe, mas nunca vi nada parecido! Então ela tenta uma abordagem diferente: - Nome do pai? Pensei, agora a história vai se complicar mais um pouco e respondo: - Não declarado! A atendente retruca: - Nome da mãe? Eu respondo: - Não declarado! Agora já era informação demais (ou informação de menos dependendo do ponto de vista): - Como assim? Não tem nome de pai e nem de mãe? Perdi a conta de quantas vezes eu tive de contar a mesma história de forma resumida para justificar a falta de sobrenome e a ausência dos nomes de pai, mãe e avós na minha certidão de nascimento. Caso você também tenha ficado curioso, permita-me me apresentar: Sou Marcos Vinicius, o primeiro do seu nome. Parece até frase de série televisiva e devo confessar que a primeira vez que ouvi foi na série Guerra dos Tronos. Como qualquer trabalho de ficção diz: “qualquer semelhança é mera coincidência”, essa foi mais uma dessas coincidências, embora seja uma história verdadeira. Para você, caro leitor, entender melhor, vou tentar descrever a minha trajetória ao longo das páginas deste livro. Talvez não seja uma das tarefas mais fáceis, afinal de contas, é uma história que perdura por 40 anos. Depois de tanto tempo, não é muito fácil lembrar exatamente de cada detalhe, mas irei me esforçar para que, de alguma forma, este livro possa ajudar as pessoas que se sentem solitárias e até mesmo abandonadas por Deus. Para muitas pessoas, as perguntas sem respostas são: qual o final do desenho Caverna do Dragão? Existem vidas extraterrestres? A série Os Simpsons terá fim? Brincadeiras à parte, existem muitas perguntas cujas respostas não podemos prever. A minha em particular é: onde, de fato, eu nasci e quem é minha mãe? Segundo informações, as quais não posso afirmar com cem por cento de certeza, tudo começou na favela da Rocinha. A favela da Rocinha, segundo pesquisas históricas, surgiu por volta dos anos 1930 com barracos e lavouras, mas seu maior crescimento foi nos anos 1970 e 1980, transformando em uma das maiores favelas do Rio de Janeiro.
Com base em depoimentos e livros, a comunidade recebeu seus primeiros habitantes logo após a II Guerra Mundial, oriundos de Portugal, França e Itália. Com exceção de Portugal, outros dois países foram arrasados pelos combates ocorridos na II Guerra. A França, principalmente, com a ocupação nazista. Por essa razão, muitas pessoas desses países quando vieram para o Brasil, especificamente para o Rio de Janeiro, fundaram, por assim dizer, uma comunidade de agricultores. Essa comunidade possuía pequenas roças e vendia suas produções em povoados vizinhos, como na feira da Praça Santos Dumont, na Gávea. Daí surgiu o nome Rocinha, em referência às roças dos seus habitantes. Por volta dos anos 1950, mineiros, baianos e outros imigrantes da região nordeste do Brasil chegaram para se somarem ao crescimento populacional. Entre esses imigrantes mineiros estava a Dona Anézia. Não sei exatamente em que ano ela saiu de Minas Gerais e veio para o Rio de Janeiro. O pouco que sei é que ela era uma mulher viúva, mãe de 5 filhos – três homens e duas mulheres – e tinha uma pequena fazenda no interior de Minas Gerais. Entretanto, como naquela época a posse de uma propriedade não era sinal de riqueza, mesmo tendo um bom pedaço de terra a vida era muito difícil. Em determinado momento, apareceu uma pessoa querendo comprar as terras da Dona Anézia. Ela já estava chegando a uma certa idade, viúva e, não conseguindo administrar tudo sozinha, resolveu vender a sua propriedade. Não preciso dizer que o valor recebido foi muito inferior ao preço que a propriedade realmente valia. Nunca soube ao certo porque ela decidiu ir para o Rio de Janeiro. Talvez porque na década de 1970, muitos mineiros estavam tentando a vida em outra cidade, especialmente no Rio de Janeiro. O fato é que com o dinheiro que ela recebeu pela venda da fazenda no interior de Minas Gerais, ela conseguiu comprar um barraco na Rocinha. Como eu disse anteriormente, Dona Anézia era mãe de cinco filhos. Maria, a mais velha, casou-se ainda em Minas Gerais, mas logo ficou viúva tendo duas filhas. Ela foi tentar a vida em São Paulo e nunca mais saiu de lá, onde vive até hoje. Zelito era um filho bem problemático. Acabou se envolvendo com serviço de capataz e foi preso por homicídio, quando Dona Anézia ainda vivia em Minas Gerais. Geraldo se casou, foi morar em Belo Horizonte e ainda vive lá. Luzia e Francisco - o mais novo - foram com a Dona Anézia para o Rio de Janeiro. Contudo, eles não imaginavam que a vida por lá não seria tão fácil.
Francisco foi trabalhar no Porto descarregando sacos de trigo, Luzia eu nunca soube o que fazia, provavelmente faxina. Dona Anézia lavava roupa para fora e para complementar o orçamento decidiu tomar conta de crianças para que as mães (principalmente mães solteiras) pudessem trabalhar. Entre as crianças que ela tomava conta, estava eu, Marcos. Essa parte da minha história, entretanto, eu não posso confirmar com cem por cento de certeza, por isso, só vou narrar o que eu ouvi ao longo dos anos. Existia uma mulher chamada Alice Gomes, que contratou os serviços da Dona Anézia. Essa mulher morava em uma vaga, (quartos de uma moradia alugados separadamente) o que a impossibilitava de criar um filho, por causa disso, eu ficava a semana toda com a Dona Anézia, sendo buscado para passar apenas os finais de semana com Alice. Essa rotina durou por alguns meses. Gostaria de poder me lembrar dessa época, pois foi a única época em que eu tive contado com a minha mãe biológica. Se eu fosse um pouco mais velho talvez pudesse guardar na memória o seu rosto. Dona Anézia me contou que quando eu tinha 9 meses a Alice – minha mãe biológica - não foi me buscar no final de semana e nem apareceu na semana seguinte. Preocupada com essa situação, Dona Anézia foi até o local onde a Alice morava para saber o que havia acontecido. Chegando lá, para sua surpresa, recebeu a notícia de que a Alice havia partido. Nunca mais Dona Anézia encontraria novamente a Alice.
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